O Projeto Memória ELCV neste ano de 2017 entra em sua fase de entrevistas e questionários escritos com pessoas que fizeram parte da história da escola como alunos, professores, funcionários, coordenadores, etc.
Em contato mantido através do perfil do Facebook de André Okuma, aluno das turmas 1 e 2 da ELCV de Santo André. Conversamos sobre o registro histórico, a “Memória” da escola e sobre a pesquisa que estamos realizando.
André respondeu ao questionário compartilhando suas lembranças contribuindo para o aumento e aprimoramento das informações e registros dos primeiros anos da ELCV de Santo André com empolgação e entusiasmo pelo projeto.
Agradecemos sua importante contribuição e disponibilizamos abaixo às informações fornecidas:
Meu nome é André Massanori Okuma, porém assino artisticamente como André Okuma, fui aluno ouvinte da primeira turma e entrei oficialmente como aluno do curso de direção na segunda turma, em 2004 se não me engano.
Participei do curso de direção, montagem, história da imagem, produção e sonorização
Conheci a ELCV já dentro dela, enquanto aluno ouvinte da primeira turma, por isso não tive expectativas sobre ela, já sabia o que eu iria vivenciar lá.
Participei da Escola no seu início, onde todos ainda estavam descobrindo o que era a escola, tanto a coordenação como os professores, e os alunos, é importante dizer que naquela época praticamente não existia escolas de cinema gratuitas e nem a popularização de vídeos pela internet, a própria ideia de uma Escola Livre de Cinema, era muito nova, mesmo buscando um formato que se aproximasse da ELT. O curso ele ia se formando junto com a turma, não havia necessariamente um projeto político pedagógico, assim como também não tinha nem estrutura física, nem equipamento e nem prédio próprio. A precariedade e a novidade do curso davam uma dinâmica peculiar, que inclusive foi fundamental na minha ideia de cinema.
Minha relação com a ELCV foi quase de amor e ódio, pois, tínhamos ideia da precariedade da escola e sempre cobrávamos e discutíamos essas questões junto a administração. Naquela época havia 3 núcleos, o de roteiro, direção e o de fotografia, a relação entre as turmas também foi de amor e ódio (risos), sempre tinha aquela tensão dos diretores mudarem o roteiro na decupagem e tal, e isso sempre causava confusão. Os professores eram incríveis, por causa deles que a escola tomou corpo, o Luis Alberto de Abreu era o professor de roteiro, o de fotografia no começo era o Waldemar Lima, o fotógrafo do “Deus e o Diabo...” do Glauber Rocha, depois veio o Maurício Hirata e o André Moncaio, que eram muito bons, na minha turma começou também a dar aula o Milton Bíscaro, tive aulas ainda com o Daniel Santiago de produção e a Kira Pereira de som, e o meu professor de direção é daqueles que se tornam mestres na sua vida, que é o Djalma Limongi Batista, ser aluno dele foi fundamental na minha maneira de ver a arte e a vida, o cineasta que sou se deve muito a ele.
Como tomou conhecimento da ELCV e como foi cursar uma escola de cinema em Santo André?
Eu fazia cenografia teatral na Escola Livre de Teatro de Santo André e era assistente de uma importante cenógrafa da cidade, a Cida Ferreira, e a primeira turma de cinema da ELCV contava com amigos dela que estavam fazendo um dos primeiros curtas da escola, o “Pérola”, esses alunos convidaram então a Cida pra fazer a direção de arte, mas ela estava ocupada fazendo direção de arte para um outro curta produzido pela ELCV, mas viabilizado pelo Fundo de cultura, o curta era “Os alvos que queremos virgens”, aí a Cida disse pra mim fazer a direção de arte do “Perola”, aceitei e foi aí que ouvi falar da ELCV, eu ia nas reuniões de produção na escola e acabava ficando pra ver as aulas, uma curiosidade é que o roteirista do “Perola” é o Sergio Pires hoje o diretor de cultura da cidade.
Quais suas lembranças boas e ruins, as que quiser citar, sobre o período em que esteve na ELCV?
As lembranças boas são muitas, as amizades que fiz lá foram duradouras e rederam diversas produções fora da escola, os sets de gravação eram tensos, mas divertidos, as lembranças ruins eram as promessas de estruturação da escola, que só foram vir na quarta turma.
Houve algum (ns) professor (es) que marcaram de alguma forma sua passagem pela ELCV? Se sim pode citá-lo (s) e discorrer sobre?
Sim, como disse, o Djalma Limongi Batista foi o professor mais marcante, e fundamental na minha vida, a partir das aulas dele que pude perceber com clareza a potência do cinema e da arte, as aulas dele eram um tratado sócio antropológico histórico e artístico do cinema, era de uma densidade que poucas vezes vi, e ele tinha muita paixão pelo cinema e isso era muito cativante, lembro uma vez que ele estava mostrando um trecho do “Rocco e seus irmãos”, uma cena em que eles começam a brigar entre si, e ele começou a chorar no meio da aula vendo a cena, foi foda, todo mundo ficou mexido, acho que foi aí que saquei o que era cinema.
Das produções que participou como foi a experiência tanto pessoal como quanto ao aprendizado que as mesmas proporcionaram?
A ELCV foi uma escola e tanto em muitos sentidos, inclusive aprendi muito sobre a dinâmica do set de filmagem nos erros que cometíamos em equipe, das brigas mesmo, essa experiência foi fundamental para eu repensar algumas práticas e pensar outras novas, ou seja, na ELCV aprendi muito sobre o que não fazer (risos) no set, essa experiência pratica foi importante para os projetos fora da escola. O repertorio cinematográfico também foi preponderante, o diálogo com os setores, essas coisas, você aprende a ouvir, a se relacionar melhor com o outro.
Como foi cursar duas turmas, a 1ª e a 2ª Turmas da ELCV de Santo André impactou / mexeu com sua vida?
Bom, impactou quase que totalmente, pois tudo o que fiz depois de alguma maneira se relaciona com o audiovisual, a minha vida é praticamente pautada pela atividade audiovisual, trabalho com isso, dou aulas disso, formei coletivos de cinema, já até viajei fazendo filmes, creio que não há impacto maior na minha vida do que a experiência do curso da ELCV.
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Agradeço ao André Okuma por sua prática junto à criação cinematográfica e à educação e formação em cinema e novamente sua generosidade em contribuir com esta pesquisa
Valeu André Okuma!
No correr do ano serão feitas entrevistas pessoas ligadas à escola de diversas épocas e disponibilizadas nos canais na Internet e neste site.
Veja as produções de André Okuma
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