13/03/2015 |
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Uma paquera, uma Paixão |
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Minha história com Cinema nunca teve as grandes paixões pelos filmes, nunca fui um ser cinéfilo. A primeira vez que entrei numa sala de cinema foi com 14 anos assistindo “Três Formas de Amar”, um outro marco foi assistir o primeiro filme brasileiro na tela “Central do Brasil”. Meu primeiro emprego aos 17 anos foi na bilheteria de um complexo de salas de cinema num Shopping em São Paulo, onde poderia ver o filme que quisesse. Mas meu gosto pelos filmes sempre foi distinto dos meus colegas, em meio a dezenas e dezenas de blockbusters americanos vinha um titulo europeu e começava a surgir os brasileiros, eu sempre aguardei as estréias nacionais e latino americanas que custavam a chegar nas salas paulistas.
Abandonei o emprego no cinema quando comecei a estudar teatro, minha primeira e leal paixão, foi por meio deste que fui prestar os exames da Escola Livre de Cinema e Vídeo de Santo André, já faziam oito anos que estudava e trabalhava com teatro, porém me dei conta que não sobreviveria apenas com teatro, muito menos por me interessar por peças e espetáculos que não eram comerciais, mas que eu tinha a necessidade de fazê-los por seus discursos e propostas. Foi ai que me aventurei na ELCV. Estudava na Escola Livre de Teatro nos núcleos de Circo e depois o de Técnicas da Interpretação, fiz os exames da Escola de Cinema e na maior cara de pau, o único argumento sincero que tive na entrevista em meio a muita conversa foi: “Quero fazer cinema para que o que eu criar seja menos efêmero, e que dure mais do que eu”. Esta foi a minha primeira paquera do que se tornou hoje uma grande paixão. Passei os seis primeiros meses do curso nessa paquera de “vinga ou não vinga” neste namoro inicial com o Cinema. No fechamento de semestre oficializamos o namoro, eu e o Cinema que aprenderia fazer. Eu até então um ator, no cinema não queria atuar, queria fazer parte de todos os processos. Da Escola Livre de Cinema e Vídeo de Santo André tenho as mais deliciosas memórias, entre meus colegas, que se tornaram amigos, estes entre os mais íntimos e leais, professores que foram sempre muito generosos tanto em nos dar ferramentas de buscas, como hoje não são ex-professores, mas cúmplices das grandes paixões. Citaria tranquilamente cada um deles, mas escrevo sobre uma que suas atitudes, gestos e comprometimento se refletem em cada um de nós, Monica Cardella a nossa coordenadora da Escola durante toda nossa formação, ela é também um reflexo síntese do empenho a carinho que tivemos dos nossos mestres e trabalhadores pela cultura para com nossa formação.
Um outro grande fato foi termos as aulas no Cine-Teatro Cargos Gomes, um cinema de calçada, o último da cidade de Santo André que resistiu em não virar uma igreja, onde deixaria de ser um templo das idéias e realizações, a última vez que o ví eram apenas algumas paredes. Saudades de cada espaço do Carlos Gomes, do saguão, plateia, palco, camarins, sala de projeção, e de tudo que ele foi cenografado para filmes que foram ali gravados tanto por aprendizes, quanto set de filmes que também utilizaram este templo cultural.
A Escola desde seu surgimento sempre teve em todas as turmas restrições e limites de equipamentos, recursos, mas nunca faltou empenho dos que estiveram ali durante a minha formação, sou da 3º turma, fizeram o que pode para sempre nos auxiliar e termos condições de fazer nossos filmes enquanto estudantes.
No ano do Trabalho de conclusão de curso nos juntamos enquanto grupo formando a Corja Filmes, que se inicia em exercícios que levávamos como os nossos primeiros filmes, qualquer exercício era uma oportunidade de fazer um filme, onde nos revezamos nas funções, a seriedade nos levou ao Festival Internacional de Curtas de São Paulo, onde estivemos com 3 curtas num mesmo ano, e mais participação na Noite de Kinos com outros dois. Todos rodados num mesmo mês. Ser vistos muito nos incentivou, afinal filmes não são pra ficar nas estantes, mas sendo exibidos e circulando.
Fora da Escola, formados seguimos com a Corja Filmes, onde conseguimos ter acesso a recursos em Editais municipais em São Bernardo do Campo, em São Paulo continuamos juntos e distantes. Hoje estou no Rio Grande do Sul onde vim estudar Produção e Política Cultural e trabalho num Projeto de Gestão de Politicas Públicas para Produção Audiovisual, como produtor na região sul do Brasil, numa Linha de Produção de Conteúdos para TVs Públicas, projeto este que vem fortalecer a programação das TVs públicas de todo país com conteúdos produzidos por produtores independentes.
Antes da minha mudança para o Rio Grande do Sul, estive na ABD-SP, Associação Brasileira de Documentaristas e Filmes de Baixo Orçamento, um espaço de desenvolver projetos e debater politicas para o setor de produção audiovisual, aqui trabalhos voluntários, porém mais aprendi do que trabalhei, além de conhecer colegas e amigos que muito contribuiram em mais aprendizados.
Na minha passagem por Jaguarão fui chamado para trabalhar na Secretaria de Cultura e Turismo, podendo exercer e aplicar muito do que aprendi em politicas públicas para a cultura, trabalhando numa equipe com colegas que para mim tornaram-se referência em comprometimento com diversidade cultural, além de somar ao projeto de restauro de uma sala de cinema de calçada, Cine Regente, cinema de cerca de mil lugares que foi objeto de estudo acadêmico no meu primeiro artigo na Universidade Federal do Pampa, projeto este entre tantos outros que essa cidade na fronteira com o Uruguai encaminha não apenas para a cultura jaguarense, mas também para nossos amigos e vizinhos uruguaios.
A cada gestão da Escola Livre de Cinema, imagino que não apenas eu, mas todos que passaram por ali ficam de olho e acompanham a escola, esta instituição faz parte do que somos hoje, assim como nós fazemos parte do que ela se tornou, desejo sempre aprendizes envolvidos, gestores comprometidos, e grandes trabalhos surgindo destas mentes inquietas e criativas que por ali passam.
Edson Costa Turma 3 da E.L.C.V. de Santo André
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