01/09/2017 |
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Memória ELCV - Wilson Julião aluno da Turma 1 apresenta suas respostas às perguntas sobre sua passagem pela escola |
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O Projeto Memória ELCV neste ano de 2017 entra em sua fase de entrevistas e questionários escritos com pessoas que fizeram parte da história da escola como alunos, professores, funcionários, coordenadores, etc.
No mês de Abril foram feitos contatos com alunos da Turma 1 com o pedido de auxiliarem no levantamento de informações relevantes com suas memórias, fotos, documentos, recortes de jornal, enfim com qualquer item que enriqueça todo o material histórico levantado até o momento.
Wilson Julião da Silva Junior, aluno da Turma 1, fez os cursos de Roteiro com Luís Alberto de Abreu e de História da Imagem com Leandro Saraiva. Contribuiu de forma assertiva e objetiva com informações de grande relevância que permitem um melhor entendimento dos primeiros anos de existência da ELCV de Santo André.
Leia as informações fornecidas:
"Sempre admirei os processos da ELT (Escola Livre de Teatro). Ao surgir a perspectiva da ELCV de pronto quis participar como aluno. Uma segunda motivação (antiga...) era estudar com o Luis Alberto de Abreu, com quem eu já tinha tido algum contato e sobre o qual já devotava imensa admiração. A expectativa geral, nos parecia, era a de criar um movimento de cinema digital independente na região, o que em alguma proporção, aconteceu de fato. Abreu, um dos idealizadores e intérpretes da proposição da escola, inclusive nas mediações com o saudoso prefeito Celso Daniel, nos ajudou muito na construção da coesão na equipe da turma de roteiro e a a incidir nesta uma escritura autoral, consciente do contexto de então e dotada de propositora em relação às demais áreas de criação da ELCV. Neste sentido, o chamamento condisse com a experiência vivida, tivemos acessos, estudos, práticas, reflexões e germes de construção de uma linguagem/estilo audiovisual da região do grande abc naquele momento. Possivelmente esta suposição pode ser melhor avaliada na fruição dos diversos vídeos produzidos na escola. Dali - não há como escapar – reconheceremos elementos estéticos recorrentes que devem rascunhar o maior legado do período.
Quando do meu ingresso na ELCV, tinha já eu alguma experiência com processos artísticos (sobretudoem artes cênicas), bem como em experiências docentes. O que foi-se delineando tinha o perfil de pesquisa em pedagogia do audiovisual. A estrutura promovia o encontro dos diversos cursos na turma de História da Imagem o que, para além de estruturar um vocabulário histórico/imagético/estético comum, promoveu um espaço de troca, de convívio, de divergência em tempos posteriores, de produção e experimentação/empirismo.
Assim e fugindo de definições mais imediatas, a distância no tempo me dá a impressão de que houve uma ação instauradora de um movimento audiovisual (não saberia precisar se ainda corrente) que consideraria seleto e circunscrito, mas que em se tratando das efetivas ações em arte e cultura na região, poderia ser reconhecido como tal, dadas sua inserção na política pública da cidade de Santo André, dados os materiais produzidos, dados os artistas envolvidos e a repercussão na região, inclusive nas mídias regionais.
A clave de atividade artístico-pedagógica de pesquisa contaminou aquele nosso convívio, estabeleceu tarefas que executadas geraram relações e estéticas próprias, que se encontravam – de modo harmônico ou não – com pressupostos mais clássicos da pedagogia em arte, sobretudo a vinculada ao cinema, dada a presença no corpo docente profissionais deste campo e através das expectativas de parte do alunado. Ganhamos com isso e a miscigenação dos meios e modos de produzir só poderia – e o fez – gerar produções híbridas e desassociadas de alguma origem reconhecível.
A relação com as pessoas da ELCV, professores, alunos, etc. foi a melhor possível, gostei muito do que vivi lá. Tinha o ar de escola de arte, de polo de produção, de movimento artístico. O ABC dificilmente sai da gente, apesar de pouco estarmos por lá (falando por mim, neste momento).
Ganhamos por duas vezes um subvenção (FAC, fundo de apoio à cultura, se bem me lembro) da Secretaria de Cultura da cidade para realizar nossos 02 vídeos (“Os alvos que queremos virgens” e “Tomé”). Esses momentos pontuais foram de muita alegria, porque gerariam inúmeros outros deveres e prazeres, todos ligados às produções e difusões destas obras.
Foi difícil passar pela morte do prefeito Celso Daniel. Estávamos muito envolvidos com a cidade de Santo André e sabíamos do empenho e apreço do Celso à cultura na cidade. Foi trágico e nos uniu na mesma indignação. Sabemos hoje que este incidente – e assim nossa experiência com ele – iniciou uma série de reposicionamentos e reconfigurações de contextos, de discursos, de territórios. Hoje percebo que era uma época e uma localidade muito importante para o que se tornaria as gestões de esquerda, sobretudo as ligadas ao PT. Reforço aqui a qualidade de trágico que envolveu aquela época, dada nossa consciência parcial da realidade.
Houve algum (ns) professor (es) que marcaram de alguma forma sua passagem pela ELCV? Luis Alberto de Abreu, um mestre. Seus ensinamentos ainda ecoam no que faço. Acho que consegui entender sobre a estrutura interna das obras através do que Abreu enunciava. Não tanto pelas informações transmitidas, mas trataria sobre algo relacionado à postura frente a um processo artístico. Difícil decifrar. Quando posteriormente nos encontramos numa peça do Romeo Castelucci (re) percebi a qualidade dos encontros com o Abreu. Tem relação com os mestres e a capacidade de transmissão de algo que se compõem pela pela presença, pela ética, pela imagem, pelo tempo-rítmico, pela força de uma mente poderosa. Abreu tem todo o meu respeito, apesar da distância. Amparo-me na experiência que tivemos juntos para tratar com as perspectivas que se apresentam nestes tempos.
Particei das produções / vídeos nas funções:
Os alvos que queremos virgens: roteiro e preparação de atores - videos_detalhe.php?id_sub=166
Tomé: roteiro, codireção (com Fábio Zerloti) e preparação de atores - videos_detalhe.php?id_sub=169
Das produções que participou como foi a experiência tanto pessoal como quanto ao aprendizado que as mesmas proporcionaram? A possibilidade de invenção de modos de produzir pode gerar a centelha da experiência de inventar novos modos de viver. Talvez por isso Foucault interessa tanto a uma grande parcela dos interessados e ingressos em processos criativos. Na ELCV houve o fomento a novos modos de organização para a criação em conjunto de obras audiovisuais. E essa invenção poderia ser apontada através do atrito entre a acervo clássico da história do cinema, magistralmente colocada sempre em jogo nas aulas e conversas dos encontros, em relação à nossa leitura sobre o contexto, a política e as vanguardas de então (lembro do Leandro Saraiva nos antecipando o impacto de “Cidade de Deus”, prestes a ser lançado). Aprofundando, essa possibilidade de reflexão e transliteração do cenário/contexto do grande abc gerou uma espécie de nossa antropologia do abc, algo que buscava escavar e delinear o que de universal e arquetípico estava às nossas vistas e poderia migrar para a tela. Toda esta matéria regurgitada às mesas pelas proposições nas diversas áreas, pela tenacidade dos envolvidos, nas trocas e diferenças (lembro de alunas de Recife, do Rio de Janeiro, do Rio Grande do Sul, Minas...) e pelas memórias dos artistas da região (histórias, personagens evocativos, locações que gerariam os materiais: p.ex. nossos projetos sobre os trens, sabotados tempos depois pela não-autorização da CPTM).
Como foi cursar a 1ª Turma da ELCV de Santo André impactou / mexeu com sua vida? Foi determinante para a abertura dos modos de produção em arte. Percebo que minhas investidas nas artes cênicas sofreram influências determinantes. Os trabalhos com o audiovisual (quando produzo efetivamente vídeo ou quando o vídeo integra materiais cênicos) e pelo audiovisual (quando este não se personifica numa criação, mas alimenta o modo de construção, a estrutura interna, uma arquitetura, uma poética...), são correntes hoje em minhas relações com as materialidades artísticas. E também afirmo, impossível desvencilhar, o quanto a experiência na ELCV ampliou minha visão sobre pedagogia em arte ela-mesma e sua antítese."
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Agradeço toda importante contribuição, paciência e envio das informações e troca de mensagens ao Wilson Julião, obrigado este projeto ficou mais rico com sua ajuda.
Saiba mais
Série Memória ELCV - projetos_detalhe.php?id_sub=66 Turma 1 - turmas_detalhe.php?id_sub=151
Projeto Memória ELCV, pesquisa e texto por Grande
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