03/04/2014 |
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C de cidadania |
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Liora Mindrisz
No segundo ano da faculdade de jornalismo fiquei sabendo dum tal curso livre de cinema e vídeo oferecido pela Prefeitura de Santo André gratuitamente e do ladinho de casa. A rotina já era apertada na época, dividida entre estágio, faculdade e namorado/amigos/família. Mas cinema sempre foi uma paixão e conhecer o lado de lá foi uma curiosidade instantânea.E é impossível dizer que mais aquela atividade diária, que me fazia sair às 6h da manhã de casa e voltar às 23h, era um fardo. Não foi. Foi uma época de extrema alegria e crescimento. Uma nova percepção de educação, profissional e pessoal se criou ali.
A turma 3 era um grupo tão heterogêneo, que por si só já daria um estudo de caso. Ganhei amigos que, embora não façam mais parte do meu convívio diário, estão e serão lembrados sempre. Aprendemos juntos a lidar com os muitos diferentes que existem, que não é nada maniqueísta.
Apesar da vivencia precoce no meio da vida política – desde bem criancinha eu frequentei reuniões e assembléias de partido, de sindicatos... -, nunca tinha experimentado na prática o que é um modelo democrático de gestão. Muito menos aplicado à educação. Estamos acostumados a ter que nos encaixar em modelos, seguir modelos e, por fim, comprovar que estamos acompanhando tudo dentro das regras. O que a Escola Livre me ofereceu foi mais do que o oposto disso.
Escolhíamos juntos (educandos, educadores, coordenadores) as disciplinas que gostaríamos de ter e as regras em aula. Aprendemos a avaliar o outro avaliando a nós mesmos. E apesar da liberdade, sabíamos respeitar as hierarquias e as sugestões dos nossos educadores. O bonito disso é que não era necessário sequer demonstrar autoridade, apesar de lembrar da Mônica, dispersando a rodinha em frente ao Carlos Gomes (cineteatro que foi mais do que sede da Escola, mas locação de todos nossos exercícios cinematográficos) para nos colocar pra aula.
Esse método de educação respeita o crescimento de cada um, o gosto de cada um, respeita o educando como individuo e não só como receptor de uma grande e única verdade. Cinema é também não ter um jeito só de resolver as equações. Isso me fez valorizar ainda mais os profissionais que tivemos a sorte de ter à nossa disposição durante o curso.
Aí para terminar um texto que me fez tão alegremente recordar os anos de ELCV, reli tudo. E a palavra mais repetida foi respeito. E então, olhando agora com a distância necessária eu compreendo. A Escola Livre nos ensinou muito mais do que cinema: aprendemos a respeitar. Se toda essa experiência tivesse sido vivida numa universidade de educação formal, teria sido profissionalmente lindo. Mas foi mais do que isso. A ELCV formou cineastas e cidadãos.
A Escola é uma marca que vive em mim, uma cicatriz boa de lembrar. Um projeto feito por pessoas totalmente bem dispostas e envolvidas. Para isso, impossível não agradecer as pessoas. Aos nossos educadores pela troca, a turma 3 pelos momentos, a turma 2 por terem sido tão acolhedores, a Mônica Cardella e Ana Cristina, pelo comprometimento com o projeto e a todos pela amizade. Hoje só resta ser grata.
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